Aqui cabe um comentário: declarar a potência sem nenhuma informação adicional não tem significado algum e pode encobrir dados incorretos. Declarações do tipo: 7 x 100 W RMS em 4 ohms não contam toda a história e uma especificação incompleta como essa pode encobrir os seguintes fatos:
1 – A potência foi medida com um canal funcionando e estendida para os outros seis. A potência efetiva com mais de um canal funcionando pode ser bem menor, tendo o autor observado valores entre 30% a 50% do valor declarado para receivers de Home Theater com os sete canais operando no valor especificado.
2 – Não se está especificando qual a distorção harmônica na potência declarada. Alguns fabricantes usam 1%, outros, 10% e outros ainda declaram potência máxima, onde a distorção pode chegar a valores elevadíssimos como por exemplo, 50% ou 100% de distorção;
3 – Não se está declarando a norma que foi utilizada para se obter essa potência. Ao não declarar a norma utilizada, o fabricante pode criar valores fantasiosos para a potência declarada.
Existem hoje em dia duas normas utilizadas para a medição de potência RMS: a IEC 60268 (europeia) e a CEA 490-A (americana). Alguns fabricantes até recentemente utilizavam a norma EIA RS-490, antecessora da norma CEA e atualmente obsoleta.
Muitos receivers de Home-Theater são especificados por meio da norma CEA 490-A, que permite a medição de amplificadores multicanal com excitação não simultânea e plena, o que gera números maiores do que a realidade. Isso levou à descoberta, por parte dos usuários, que amplificadores dedicados com 3 canais, construídos de forma mais robusta, e utilizados para excitar os canais frontais, são uma solução de melhor qualidade do que utilizar os canais frontais do receiver do home-theater.
O caso do IHF (Instituto de Alta Fidelidade, associado ao IEEE), ovo da serpente da inflação de potência, não era originariamente declarado em watts. O começo do engano começa com a expressão “dynamic headroom”. Headroom é um termo de engenharia civil que especifica a distância da cabeça de um homem de pé até o teto da casa. Quanto mais alto é um homem e menor a altura do teto da casa, maior risco de num simples pulo o homem bater a cabeça no teto. A analogia do IHF é que quanto maior for a tensão de alimentação, maior será a excursão do sinal de audio antes desse atingir o ceifamento da onda, também conhecido como clipping.
É sabido que , pelas limitações de regulação de fonte de um amplificador linear, durante o repouso e consumo mínimo, a tensão de sua fonte aumenta. Intuitivamente deduzimos que o “dynamic headroom” aumenta também, algo que permite a excursão do sinal de áudio de curta duração acima do valor obtido quando o amplificador processa um sinal de audio contínuo, como por exemplo uma longa nota de um órgão de tubos.
O pecado do IHF, apesar de originariamente não declarar a potência em watts e sim em decibéis, é que a comparação entre os dois níveis de sinal obtidos na saída do amplificador é derivada de duas condições diferentes, isto é: os tempos de excitação do sinal injetado no amplificador mudam consideravelmente . Esse é um erro conceitual grave.
Compare o caso da “potência IHF” com a medição de potência média contínua de um amplificador que processa um sinal a 1% ou 10% de DHT – Distorção Harmônica Total. Esses dois valores podem ser obtidos sem dificuldades.
Notar que é impossível medir a DHT de um um sinal IHF pulsante; é possível apenas observar a tangente de clipping em osciloscópio, pois não há tempo suficiente para um medidor de DHT estabilizar-se. Então a comparação “Dynamic Headroom”, mesmo que declarada em decibéis, é falsa.
Outro problema conceitual igualmente grave é que quando definimos o tempo de medição de potência, a grandeza “potência” muda para a grandeza “trabalho”. Assim, essa grandeza deve ser expressa em Joules, watt-segundo, kWh, etc, nunca em watts.