Os amplificadores têm uma limitação de potência que deriva de vários fatores elétricos e mecânicos, como o espaço disponível e a área de dissipação de calor, e iremos abordar essa questão em outro artigo, em breve. Também sabemos que todos os amplificadores produzem calor durante sua operação, em maior ou menor grau, dependendo de sua classe de operação. Mesmo os eficientes amplificadores classe D, que podem gerar potências reais da ordem de alguns quilowatts (kW), dissipam uma quantidade considerável de calor nessa situação.
Para eliminar-se o calor gerado internamente, dissipadores de calor, normalmente feitos em alumínio, e que são caros, são necessários. Para se fornecer a energia necessária para a operação, transformadores e capacitores de considerável tamanho e cujos custos também são altos, precisam ser utilizados. Além disso, os semicondutores que se utilizam nos estágios de saída precisam ser adequados em capacidade e em quantidade, usualmente com unidades trabalhando em paralelo, o que também incrementa o custo.
Em outras palavras, isso significa que aumentar a potência custa bastante dinheiro. Logo, para se aumentar a potência real de determinado produto, a conta final de materiais sobe e se traduz em valores maiores, que necessitam ser repassados ao consumidor.
A grande vantagem de declarar uma potência fictícia é que não se gasta um centavo em materiais e leva-se o consumidor a achar que comprou um produto mais potente por um preço menor, ou seja, declarar potência maior com base em uma potência muitas vezes alcançada apenas durante poucos centésimos de segundo ou muitas vezes não existente é uma forma de concorrência desleal que prejudica quem trabalha de forma séria e também prejudica o consumidor, que acaba comprando gato por lebre. E para competir no mercado, os fabricantes são obrigados a se nivelar por baixo, entrando na dança das especificações de potência.
O INMETRO, através da portaria 268, tentou colocar ordem nesse mercado, proibindo certas formas de especificação de potência (mais sobre a portaria, adiante). Mas como existem outros detalhes na especificação de potência, como, por exemplo, medir a potência com um único canal operando e declará-la como a obtida com sete ou mais operando simultaneamente, a confusão ainda reina no mercado.
O caso do IHF (Instituto de Alta Fidelidade, associado ao IEEE), ovo da serpente da inflação de potência, não era originariamente declarado em watts. O começo do engano começa com a expressão “dynamic headroom”. Headroom é um termo de engenharia civil que especifica a distância da cabeça de um homem de pé até o teto da casa. Quanto mais alto é um homem e menor a altura do teto da casa, maior risco de num simples pulo o homem bater a cabeça no teto. A analogia do IHF é que quanto maior for a tensão de alimentação, maior será a excursão do sinal de audio antes desse atingir o ceifamento da onda, também conhecido como clipping.
É sabido que , pelas limitações de regulação de fonte de um amplificador linear, durante o repouso e consumo mínimo, a tensão de sua fonte aumenta. Intuitivamente deduzimos que o “dynamic headroom” aumenta também, algo que permite a excursão do sinal de áudio de curta duração acima do valor obtido quando o amplificador processa um sinal de audio contínuo, como por exemplo uma longa nota de um órgão de tubos.
O pecado do IHF, apesar de originariamente não declarar a potência em watts e sim em decibéis, é que a comparação entre os dois níveis de sinal obtidos na saída do amplificador é derivada de duas condições diferentes, isto é: os tempos de excitação do sinal injetado no amplificador mudam consideravelmente . Esse é um erro conceitual grave.
Compare o caso da “potência IHF” com a medição de potência média contínua de um amplificador que processa um sinal a 1% ou 10% de DHT – Distorção Harmônica Total. Esses dois valores podem ser obtidos sem dificuldades.
Notar que é impossível medir a DHT de um um sinal IHF pulsante; é possível apenas observar a tangente de clipping em osciloscópio, pois não há tempo suficiente para um medidor de DHT estabilizar-se. Então a comparação “Dynamic Headroom”, mesmo que declarada em decibéis, é falsa.
Outro problema conceitual igualmente grave é que quando definimos o tempo de medição de potência, a grandeza “potência” muda para a grandeza “trabalho”. Assim, essa grandeza deve ser expressa em Joules, watt-segundo, kWh, etc, nunca em watts.