João Yazbek*
Nenhuma discussão sobre amplificadores ficaria completa sem abordar a questão que mais chama a atenção dos consumidores e que, por isso mesmo, é a que mais controvérsia gera. Estamos falando da potência de saída dos amplificadores de áudio.
A potência de um amplificador de áudio indica o quanto de energia o produto é capaz de entregar aos alto-falantes. Como o assunto é muito importante, tanto para fabricantes como para consumidores, surgiram as mais variadas formas de se declarar essa potência, numa verdadeira guerra de números que procura chamar a atenção do consumidor para determinado produto.
Como em todo mercado, existem fabricantes sérios, que declaram a potência corretamente e fabricantes que fazem questão de serem incompletos e obscuros em suas especificações, assim como existem outros que declaram valores que estão especificados de forma correta, mas que, na prática, se revelam longe dos obtidos quando os produtos são medidos em laboratório.
A desinformação na especificação de potência existe porque, além de ser a mais observada pelos consumidores, no estágio de potência é onde se concentram grande parte dos custos de um amplificador. Dobrar a potência de um amplificador pode custar mais do que o dobro do custo inicial. Ou seja, os custos aumentam de forma significativa e o aumento pode ser desproporcional ao aumento de potência.
* Engenheiro Eletricista
O caso do IHF (Instituto de Alta Fidelidade, associado ao IEEE), ovo da serpente da inflação de potência, não era originariamente declarado em watts. O começo do engano começa com a expressão “dynamic headroom”. Headroom é um termo de engenharia civil que especifica a distância da cabeça de um homem de pé até o teto da casa. Quanto mais alto é um homem e menor a altura do teto da casa, maior risco de num simples pulo o homem bater a cabeça no teto. A analogia do IHF é que quanto maior for a tensão de alimentação, maior será a excursão do sinal de audio antes desse atingir o ceifamento da onda, também conhecido como clipping.
É sabido que , pelas limitações de regulação de fonte de um amplificador linear, durante o repouso e consumo mínimo, a tensão de sua fonte aumenta. Intuitivamente deduzimos que o “dynamic headroom” aumenta também, algo que permite a excursão do sinal de áudio de curta duração acima do valor obtido quando o amplificador processa um sinal de audio contínuo, como por exemplo uma longa nota de um órgão de tubos.
O pecado do IHF, apesar de originariamente não declarar a potência em watts e sim em decibéis, é que a comparação entre os dois níveis de sinal obtidos na saída do amplificador é derivada de duas condições diferentes, isto é: os tempos de excitação do sinal injetado no amplificador mudam consideravelmente . Esse é um erro conceitual grave.
Compare o caso da “potência IHF” com a medição de potência média contínua de um amplificador que processa um sinal a 1% ou 10% de DHT – Distorção Harmônica Total. Esses dois valores podem ser obtidos sem dificuldades.
Notar que é impossível medir a DHT de um um sinal IHF pulsante; é possível apenas observar a tangente de clipping em osciloscópio, pois não há tempo suficiente para um medidor de DHT estabilizar-se. Então a comparação “Dynamic Headroom”, mesmo que declarada em decibéis, é falsa.
Outro problema conceitual igualmente grave é que quando definimos o tempo de medição de potência, a grandeza “potência” muda para a grandeza “trabalho”. Assim, essa grandeza deve ser expressa em Joules, watt-segundo, kWh, etc, nunca em watts.