O Primeiro TVKX

O cinescópio estava fora de suspeita pois o defeito se reproduzira no cinescópio da oficina, sabidamente em bom estado. Além disso, sendo o nível de sinal já bastante forte ao chegar à válvula de imagem, o zumbido introduzido neste ponto deveria causar uma barra mais larga e menos escura.

Não sei o que me deu na telha mas resolvi ensinar ao rapaz alguns expedientes para enfrentar um caso de zumbido sem perder muito tempo, coisa que a gente já faz como rotina mas que, para aqueles que estão começando, ainda parece um bicho de sete cabeças.

“Você tem aí o esquema do ‘kit’ que montou?”

“Sim, sr., está aqui dentro desta repartição da mala” disse o rapaz, passando-me rapidamente um folheto de instruções com o esquema para montagem em chapeado e o diagrama esquemático do televisor completo.

“Bem, primeiro deixe-me dizer-lhe que o zumbido nem sempre é proveniente de falta de filtragem na fonte de alimentação. Muitas vezes ele é causado por uma fuga de filamento para catodo em qualquer válvula do televisor. Neste seu caso aqui, essa barra escura deve provavelmente ser causada por uma fuga dessas em qualquer válvula localizada entre a antena e a entrada do cinescópio. O pessoal mais tarimbada em reparação de defeitos em televisores adquire certa prática, e com o tempo adota certos expedientes que facilitam muito a localização rápida da origem do defeito.

Bem, deixe-me desenhar aqui, sem muitos detalhes, um esquema simplificado dos estágios onde devemos procurar localizar a válvula suspeita desta sua dor de cabeça.

Veja; Aqui temos o sintonizador que, como você sabe, contém duas válvulas; a amplificadora de R.F. e a osciladora e conversora de alta frequência. Depois temos o canal de F.I. de vídeo e som: estas três válvulas 6CB6. Em seguida vem o detector de vídeo, que nesta sua montagem é um diodo de germânio. Alguns circuitos utilizam uma 6AL5, o que vem a dar no mesmo. Depois a válvula amplificadora de vídeo e finalmente o nosso tubo de imagem. Tudo claro?

Pois bem, então, para início de conversa, deixe-me fazer-lhe uma primeira pergunta: Qual a primeira coisa que você faria se tivesse que consertar um aparelho de rádio completamente mudo mas com todas as válvulas acesas?”

“Bem, eu tocaria logo com o dedo no ponto médio do potenciômetro de volume p’ra ver se ‘tem’ áudio.”

“Perfeito. E você faz isso para saber, pelo menos preliminarmente, se a fonte de alimentação está funcionando, se a pré-amplificadora de áudio, a válvula de saída, o transformador de saída e o falante estão em boas condições. Com isto você nada mais faz que reduzir cinquenta por  cento do seu trabalho de pesquisa. Havendo áudio, sabe que deverá procurar o defeito na etapa de alta frequência. Já pensou no tempo que perderia se tivesse que ir medindo tensões a esmo sem um ponto certo de partida? É claro que se não houver resposta de áudio ao toque na grade da pré-amplificadora, já sabe que o defeito estará provavelmente na fonte, pré-amplificadora ou saída.

2 comentários sobre “O Primeiro TVKX”

  1. Jose Carlos Pimentel Guimaraes28 de janeiro de 2023 às 8:31 AMResponder

    Excelente História, é assim que devemos fazer com quem quer aprender de verdade.

  2. Ronald Colman26 de outubro de 2023 às 10:09 PMResponder

    Bela história, um pouco fantasiosa, mas serviu para mostrar as etapas e os blocos de uma TV antiga a válvula, só senti que faltou ao técnico colocar a válvula boa no lugar da defeituosa para mostrar o funcionamento perfeito da TV, afinal poderia ter outro defeito que só se apresentaria após a troca da válvula, faltou mencionar também que no circuito analisado os filamento das válvulas estariam ligadas em paralelo, de qualquer forma é uma bela história.

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