O Novo Mundo do Áudio Digital Parte IV

Portanto, não espere que um produto portátil vá ser muito melhor que seu tocador de padrão de mercado, pois ele não vai ser. 

Lembro que, durante a gravação, a parte analógica também introduz limitações de performance significativas, com a possibilidade de perda de algo como 4 bits de resolução em uma gravação em alta resolução, dependendo do equipamento. Para tentar ouvir o resultado de um arquivo bem gravado na sua ca­sa você precisará de um mídia player ou PC de qualidade superior, de um conversor digital-analógi­co com capacidade para decodificar ao menos 24/192 e DSD, de um ­pré-amplificador de alto nível, de um am­plifica­dor e de caixas de som para alta definição. Para isso, estimo que o gasto pode chegar ao menos em 10.000 dólares.

Utilizando eletrônica premium, a diferença será audível? Essa é a grande questão, e para respondê-la vamos fugir um pouco da discussão existente em revistas e em sites da Internet e vamos avaliar estudos da AES (Audio Engineering Society) americana. São estudos menos enviesados pelo marketing existente quando se fala em HRA.  Mesmo tendo eletrônica de qualidade na reprodução, o usuário vai nos perguntar: de que adianta tudo isso se eu ouço, quando muito, até 20 KHz?

Um artigo publicado em 2003 pela AES nos indica que tons acima de 20 KHz reproduzidos sozinhos não são audíveis, mas que estes mesmos tons quando apresentados superpostos a tons abaixo de 20 KHz se tornam audíveis. Esse artigo cita que, de acordo com as avaliações auditivas realizadas, sons acima de 20 KHz quando adicionados a sons audíveis provocam uma melhoria na qualidade da reprodução. Além disso, o mesmo artigo cita que as frequências de amostragem mais elevadas trazem a vantagem de que a resolução temporal se aproxima da capacidade de resolução do ouvido humano.

A resolução temporal é o tempo existente entre uma amostra e outra, que no caso do CD é de 22.7 microssegundos e no caso de uma frequência de amostragem de 192 KHz é de 5.2 microssegundos. Instrumentos musicais com tempo de ataque muito rápido, quando digitalizados em sistemas com resolução temporal baixa, perdem o que os autores chamam de transparência. Essa aproximação entre amostras, defendem os autores, proporciona benefícios musicais, pois se consegue reproduzir muito melhor os transitórios, aumentando a transparência e a dinâmica. Nesse quesito há uma vantagem enorme do DSD, que tem resolução temporal de 0.35 microssegundos.

Um comentário sobre “O Novo Mundo do Áudio Digital Parte IV”

  1. João de Paiva Andrade17 de maio de 2021 às 4:33 PMResponder

    Parabéns pela série sobre áudio digital, que mostra rigor técnico e também as “polêmicas” e contradições que existe até mesmo entre engenheiros e pesquisadores inscritos na AES.

    O uso de sistemas digitais – seja para o registro e reprodução de sons e música, imagens ou informações – é o que de mais engenhoso e abstrato o engenho humano concebeu, visando superar as limitações não só dos nossos sentidos, mas as restrições impostas pela Física e suas Leis. Ou seja: nos sistemas digitais lançamos da matemática – a mais exata das ciências e que assim o é exatamente por ser completamente abstrata – para registrar e depois reproduzir informação. Isso fica claro, quando o autor mostra que as restrições de desempenho – para gravação e reprodução de áudio em alta resolução – se concentram nas etapas analógicas, pois é nessas que a Física impões suas Leis e limitações.

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