O Novo Mundo do Áudio Digital Parte IV

João Yazbek*

Vimos no mês passado que, para usufruirmos do benefício auditivo dos formatos em alta resolução, a eletrônica a ser utilizada tem de ser sofisticada. Os equipamentos têm de apresentar desempenho muito acima da média e os arquivos-fonte têm de ser gravados em um formato sem perdas e com alta taxa de amostragem e de bits. Precisamos também de uma gravação realizada com equipamentos de última geração, que sejam capazes de efetuá-la sem perder o detalhamento.

No mundo profissional, existem produtos como microfones, conversores A/D e D/A e amplificadores de alta resolução, que tem de ser utilizados na gravação para obtermos um resultado adequado. Logo, existem restrições severas para se desfrutar dos benefícios do áudio em alta resolução tanto do lado do estúdio de gravação quanto do lado do equipamento de reprodução.  Vimos também que formatos de alta resolução lançados no passado não emplacaram. Será que dessa vez dará certo?

Vamos abaixo analisar alguns detalhes técnicos, iniciando pela parte digital e posteriormente explorando a parte analógica. Finalizaremos com a questão perceptual, ou seja, como o desempenho dessa tecnologia é percebido pelo usuário.

Um minuto de música em 2 canais, gravada no formato CD 16/44.1, tem 1.411 Kbits/seg. Um arquivo FLAC em 24/192 kHz tem uma taxa de bits de 9.216 Kbits antes de ser comprimido. Após a compressão do arquivo em FLAC, temos algo em torno de 5 Mbits/segundo de música. Isso impõe uma capacidade de armazenamento de quase 40 Mbytes por minuto ou 2,6 Gbytes para um disco de 70 minutos. Logo, para armazenarmos 100 discos, precisamos de 260 Gbytes de armazenamento.

A tecnologia digital fez com que o tamanho do arquivo não fosse o grande limitador do uso de arquivos em alta resolução, pois discos rígidos para PC com 2 Terabytes ou mais são comuns hoje em dia. Mas para dispositivos portáteis, 64 ou 128 Gigabytes são ainda bastante coisa. Ou seja, para um PC a capacidade de armazenamento não é problema, mas se você quiser colocar toda sua biblioteca em alta resolução em um dispositivo portátil você vai acabar sem memória.

Mas isso não chega nem aos pés das limitações de performance da parte analógica do sistema. Os requisitos vistos na coluna anterior (140 dB de relação sinal-ruído / banda dinâmica e 100 KHz de resposta em frequência) aliados à uma potência de saída que permita efetivamente utilizarmos a banda dinâmica disponível são praticamente inatingíveis para aparelhos portáteis e fones de ouvido de menor tamanho.

*Mestre em Engenharia Eletrônica

Um comentário sobre “O Novo Mundo do Áudio Digital Parte IV”

  1. João de Paiva Andrade17 de maio de 2021 às 4:33 PMResponder

    Parabéns pela série sobre áudio digital, que mostra rigor técnico e também as “polêmicas” e contradições que existe até mesmo entre engenheiros e pesquisadores inscritos na AES.

    O uso de sistemas digitais – seja para o registro e reprodução de sons e música, imagens ou informações – é o que de mais engenhoso e abstrato o engenho humano concebeu, visando superar as limitações não só dos nossos sentidos, mas as restrições impostas pela Física e suas Leis. Ou seja: nos sistemas digitais lançamos da matemática – a mais exata das ciências e que assim o é exatamente por ser completamente abstrata – para registrar e depois reproduzir informação. Isso fica claro, quando o autor mostra que as restrições de desempenho – para gravação e reprodução de áudio em alta resolução – se concentram nas etapas analógicas, pois é nessas que a Física impões suas Leis e limitações.

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