– Tudo começou, na verdade, há bastante tempo… Sabe como estão as coisas não é mesmo? Caiu na rede é peixe! Por isso qualquer aparelho era bem vindo. Excetuando-se valvulados, valia de tudo. Dor de cabeça na certa… mas, na falta de coisa melhor, engolia-se mais um sapo. Certo, Zé Maria?
– Por isso mesmo naquela manhã, quando apareceram duas figuras vindo não sei de onde com um velho Toshiba, daqueles com caixa de madeira , dentro de uma carrocinha , não nos espantamos muito. A mulher, com pinta de esquizofrênica, sempre dando ordens, pediu ao velho que colocasse o televisor no balcão.
– Passo depois para saber do orçamento!… vamos!
– O televisor parecia ser daqueles que passaram uma longa temporada perto de cozinha, bastante empoeirada, e para variar, totalmente parada…
– Aí, como quase uma rotina, examinamos por alto e verificamos que a fonte estava morta e a saída horizontal em curto.
– Daí uns dois meses depois aparece alguém com o canhoto e pediu o orçamento .. Cobramos o que achávamos justo e o tal sujeito, que por sinal sumiu, aprovou na hora.
– Fiquei uns dois dias perdendo tempo naquela tranqueira… troca flaibeque… saída horizontal… regulador da fonte… aí o seletor não dava a mínima bola para ninguém… o tubo, um lixo… ou seja: Nada prestava.
– Um belo dia, apareceu o velho… com o carrinho para pegar o televisor. Carlito então explicou que infelizmente, não era possível recuperar o aparelho. Ele simplesmente virou as costas e saiu empurrando o carrinho vazio, como nada houvesse acontecido.
– No dia seguinte voltou, acompanhado da mulher maluca, que logo de saída começou a gritar e gesticular. Carlito conseguiu acalma-la…
– Justamente aí, Toninho que, havia feito a droga, apareceu.
– Não tive culpa nenhuma… Fiz o que todos fazem… empilhamos os televisores sucateados. O Toshiba ficou por baixo. Em cima dele ficou uma Philips e uma Semp 10 IL, daquelas branquinhas, com o tubo partido. Apenas retirei o Semp e o coloquei no balcão, para poder retirar o Toshiba, que estava embaixo de tudo…
– Foi quando o tempo fechou de vez. A mulher louca começou a gritar o mais alto possível que aquele não era o seu televisor… que havíamos trocado de aparelho…. De nada adiantou apontar para o televisor que estava junto ao chão e dizer que aquele era o Toshiba dela…