MEMÓRIA – O Capyau

Miécio Ribeiro de Araújo, o Capyau, fluminense, nasceu em 20 de setembro de 1924, filho de uma italiana, do Rio Grande do Sul, e de um português, de Minas Gerais, sempre foi uma pessoa curiosa e, aos 15 anos de idade, teve seus primeiros contatos com a ciência do rádio, enquanto estudante da 4ª série do Ginásio Bittencourt Silva, de Niterói (RJ), quando, visitando um colega de classe, viu, pela primeira vez, um rádio galena em funcionamento. Foi paixão instantânea.

Nas palavras do próprio Capyau (Em Grupo dos Veteranos – Eletrônica Popular, pág. 329 a 336, Edição de maio e junho de 1978):

“… certo dia, jogando uma “pelada” na casa de outro companheiro de estudos, um mau “passe”, e a bola foi embarafustar-se debaixo do porão da casa! Entramos de “gatinhas” atrás da bola e fomos encontrá-la junto a um velho caixote coberto de poeira e teias de aranha. Perguntando o que havia ali dentro, fomos informados de que ele continha muitas revistas velhas e material de rádio que pertenceram a um membro da família já falecido há vários anos e que tinha sido um radioamador! Ficamos com os cabelos eriçados e, depois de longas “demarches”, com avanços e recuos de ambas as partes, conseguimos levar aquele caixote para nossa casa, dando, em troca, a nossa bola de futebol, nosso par de patins, nosso álbum de selos e… Oh dor! a nossa coleção secreta de “Pin-Up Girls”!!

Chegando em casa, abrimos imediatamente o caixote e começamos a explorar o nosso tesouro. Aos nossos olhos maravilhados surgiu uma coleção de “Antenna — Rádio Para Todos”, desde o ano de 1926 até o de 1935! Um outro amarrado de revistas, e estávamos folheando sofregamente vários números de “Radio News” de 1924 até 1930!

Válvulas UX201A, UV199, B406 e muitas outras, surgiram à luz do sol, faiscando como se fossem diamantes. Capacitores variáveis de 17 e 23 placas, Pilot, Cardwell e de outras marcas, surgiam aos montes, lançando reflexos dourados de suas placas de latão polido! Reostatos, “knobs”, mostradores, baterias “Gaillard”, carretéis de fio esmaltado de várias bitolas, microfones de carvão “Ericsson”, fones “Stromberg Carlson”, medidores “Jewel”, alto-falantes “Amplion” surgiam aos nossos olhos como se fossem jóias faiscantes!

A emoção foi tanta que quase tivemos um “troço”. Passamos os dias seguintes “debulhando” os números de Antenna e “Radio News”, e logo em seguida iniciamos a construção do nosso primeiro regenerativo teito com uma B406 da Philips, e circuito ” Weigand-Reinartz”. Com a ajuda de outro colega de classe, fizemos uma bateria de acumuladores de 24 volts, usando tubos de ensaio e placas de chumbo, tudo de acordo com os ensinamentos de Antenna.”

2 comentários sobre “MEMÓRIA – O Capyau”

  1. SD fonseca24 de setembro de 2024 às 3:40 PMResponder

    Saudades do Capyau…tenho ainda as revistas em que eles nos divertia e ensinava diligentemente com seus artigos soberbos – aquela do brasmissor movido a feijão e com SSB de pedal foi simplesmente um show à parte.

  2. Robert Santos29 de setembro de 2024 às 2:36 AMResponder

    Bons tempos… comecei lendo Eletrônica Popular e Antenna por volta de 1975, eu era autodidata ainda, tempos depois estava na escola técnica de Eletrônica ( Escola Técnica de Cîências Eletrônicas do Ibratel ) fui aluno do Professor Sérgio Starling ( (lamentavelmente falecido ) li o artigo ” As aventuras e desventuras de um Radioamador na Roça ” , até hoje lembro das histórias, eu me divertia muito e aprendia muito com os artigos do saudoso Miécio, suas histórias eram muito ricas em detalhes, seus desenhos, fotos, incrível, um verdadeiro Radioamador. Também me tornei Radioamador na mesma época. Mas, o tempo passou, Gilberto Affonso ( PY1AFA) e muitos outros que tanto contribuíram para EP e Antenna já nos deixaram. Realmente os tempos mudaram, tudo passou muito rápido. Fico feliz ao ver que Vovó Antenna tenha retornado há algum tempo, aprendi muito lendo as páginas de ambas revistas ( ainda possuo as revistas quando eram revistas separadas ) agora, falta pouco para completar 100 anos. A primeira e a única revista de Eletrônica sobrevivente no Brasil. Espero ver a edição de abril de 2026 comemorando o centenário. A nova geração precisa saber da existência da Revista Antenna.

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