“There are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy” (Hamlet, Act 1, Scene 5 – William Shakespeare)
Novamente, estamos nós aqui com mais uma frase muito surrada, e desta vez é de Shakespeare.
Traduzida, incorretamente, para o Português, como “Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe sua vã filosofia, Horácio”, na verdade, de forma mais fiel, seria algo como “Há mais coisas no céu e terra, Horácio, do que foram sonhadas na sua filosofia”.
O “vã”, marotamente inserido nessa tradução comum, pode induzir o leitor à conclusão de que a personagem estaria a desdenhar do conhecimento (filosofia), posto que Horácio, na peça de teatro, simboliza o homem racional, que não acredita em fantasmas ou em coisas sobrenaturais.
Embora a ciência e a racionalidade sejam essenciais para a sobrevivência (e para a sanidade) do ser humano e de suas construções sociais, elas não têm resposta para tudo. Há muitas coisas no mundo que a razão (ainda?) não consegue explicar. Temos que ter noção de nossas limitações, nesse aspecto. Temos que ser humildes.
Ok, mas, o que isso tem a ver com uma seção de memória de Antenna? E com o Capyau?
Para aqueles que não o conheceram, “Capyau” era o pseudônimo utilizado por Miécio Ribeiro de Araújo em seus artigos, mensagens e colaborações para Antenna e Eletrônica Popular. Iremos tratá-lo sempre assim, nestas linhas, doravante, e temos certeza de que ele o aprovaria.
Dito isto, quem, como este escriba, era leitor assíduo de Antenna e Eletrônica Popular da década de 1970 em diante, conheceu, com certeza, a produção técnica (e literária) do Capyau.
Seus textos são tecnicamente precisos e suas técnicas de escrita e de transmissão de informação, empáticas; elas capturam o leitor, que se sente ambientado e pertencendo, como se testemunha local fosse, àquela situação narrada.
O Capyau produziu diversos artigos técnicos durante o período de 1970 a 1988, 22, de acordo com nossos registros, para a Editora Antenna, e todos são de excelência.
Muitos de seus trabalhos serviram de referência para técnicos e hobistas: construção de equipamentos, indutores de RF, mecânica, eletro-eletrônica, física básica e muitas coisas práticas de eletrônica.
Saudades do Capyau…tenho ainda as revistas em que eles nos divertia e ensinava diligentemente com seus artigos soberbos – aquela do brasmissor movido a feijão e com SSB de pedal foi simplesmente um show à parte.
Bons tempos… comecei lendo Eletrônica Popular e Antenna por volta de 1975, eu era autodidata ainda, tempos depois estava na escola técnica de Eletrônica ( Escola Técnica de Cîências Eletrônicas do Ibratel ) fui aluno do Professor Sérgio Starling ( (lamentavelmente falecido ) li o artigo ” As aventuras e desventuras de um Radioamador na Roça ” , até hoje lembro das histórias, eu me divertia muito e aprendia muito com os artigos do saudoso Miécio, suas histórias eram muito ricas em detalhes, seus desenhos, fotos, incrível, um verdadeiro Radioamador. Também me tornei Radioamador na mesma época. Mas, o tempo passou, Gilberto Affonso ( PY1AFA) e muitos outros que tanto contribuíram para EP e Antenna já nos deixaram. Realmente os tempos mudaram, tudo passou muito rápido. Fico feliz ao ver que Vovó Antenna tenha retornado há algum tempo, aprendi muito lendo as páginas de ambas revistas ( ainda possuo as revistas quando eram revistas separadas ) agora, falta pouco para completar 100 anos. A primeira e a única revista de Eletrônica sobrevivente no Brasil. Espero ver a edição de abril de 2026 comemorando o centenário. A nova geração precisa saber da existência da Revista Antenna.