Jaime Gonçalves de Moraes Filho*
Através de um dos primeiros números de Antenna, tomamos conhecimento de uma das maiores façanhas técnicas dos primórdio da radiodifusão – a transmissão de uma programação simultânea entre dois estados, no caso entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
Hoje em dia, com a extrema facilidade nas comunicações, não nos damos conta das dificuldades encontradas na década de 1920, quando a potência dos transmissores ficava em torno de alguns poucos kW ( Rádio Educadora Paulista – 1 kW e Rádio Club do Brasil – 0,5 kW), além da precariedade dos receptores, com pouca sensibilidade de seletividade precária.
Some-se a isto o sistema de ligação ( link ) entre o transmissor e os estúdios, feito por meio de uma linha telefônica, muitas vezes apresentando ruídos e zumbidos indesejáveis. Este mesmo sistema foi amplamente utilizado, claro, com novos aperfeiçoamentos, até meados da década de 1960, quando os links em FM vieram a substituir os cabos telefônicos.
Mas, retornando a outubro de 1926, vimos que, estando o Presidente da República, Washington Luiz em visita ao Estado de São Paulo, seria pronunciado um importante discurso nas dependências do “Theatro Santa Helena”, irradiado pela Rádio Educadora Paulista, e que esta seria a oportunidade ideal para a execução de um experimento técnico, a ser realizado pela primeira vez na América Latina: a transmissão desde a cidade de São Paulo até o Rio de Janeiro, onde seria retransmitido pelo Rádio Club do Brasil.
A única dificuldade estava no fato das duas cidades estarem distantes em cerca de 500km.
Para tal tarefa, foi necessário se recorrer ao departamento de engenharia da Light, que naquela ocasião administrava todo o sistema telefônico, para que uma linha especial fosse reservada para a transmissão dos sinais de áudio entre as duas emissoras entre as dezoito e as vinte e três horas, sem qualquer interrupção.
* Professor de Física e Engenheiro de Eletrônica